https://www.facebook.com/soribeiro14

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"As vezes falta rumo e sobra perna, o jeito é andar".

segunda-feira, 24 de março de 2014


Que no outono eu seja árvore – que ao perder as folhas, Deus me encha de asas!
Amém!
Miryan Lucy

sexta-feira, 14 de março de 2014




Quando perco o sono fico costurando flores por dentro dos sonhos, no viés do vestido da noite. Às vezes me dá uma vontade crua de ser triste só pra encharcar com lágrimas de sal a poesia e espantar as abelhas. Mas não aprendi amargura nem quando me amamentaram com fel.

Eu só preciso pingar duas gotas de lua nos meus olhos pra dilatar a pupila e resgatar minha inocência. E aceitar com ternura minha vida de insônias, ardências e alguns (des)encontros.

Estou com sede de mudanças, mas não quero arrastar os móveis, nem desentortar os quadros. Quero desabitar meus hábitos; entrar na poeira estagnada das coisas e assoprá-la no vento como quando se liberta um passarinho depois de curar sua asa machucada.

Pra estar feliz eu só preciso deixar que meus dedos dancem a coreografia do poema novo, vestir as palavras de cetim pra seduzir o moço e aumentar as exclamações do seu desejo.
Amanhecer é da competência dos dias.O poeta tece a paisagem.

(Marla de Queiroz






Sentou-se à beira-mar pra entender o vento. De onde vinha, pra onde ia. Que segredos trazia, se respostas e acalantos o vento oferecia e levava embora consigo. 
Refletia os sorrisos de ontem, as vontades de hoje, a incerteza do amanhã. 
Embaralhava suas memórias, seus quereres e expectativas ao passo que a brisa do mar tocava seu rosto e beijava seus ouvidos.
A moça queria tudo. Queria entender os mistérios do tempo e desvendar suas fases. Os motivos dos tombos, as certezas das escolhas, as lágrimas de estafa.
Não percebia as transições, julgava os dias iguais, não enxergava as respostas tão óbvias preocupada demais com os dias de amanhã.
Não entendia que fases foram feitas pra passar.
Na cegueira, fugiam-lhe os detalhes que a transportavam de um período a outro. A notícia que chega, o abraço recebido, a segunda chance, a força desconhecida, a palavra entoada, os planos arquitetados, os caminhos percorridos, os desafios superados, as dores que ensinam, os sorrisos que curam, os obstáculos transpostos, os desejos, as verdades, os recomeços. O simples despertar num dia novo.
Distraída, não percebia nada. Mas se sabia errada.
Num gesto furtivo, olhou pro céu e viu a lua que chegava. Nova. Aceitou o sinal.
Num salto, molhou os pés e se despediu da beira-mar. Foi sem saber o que aquelas ondas acabavam de lhe ensinar. As minúcias do tempo dando sinal a cada chegada e retorno das ondas. O movimento contínuo e, no entanto renovado. Ondas que vinham e voltavam, quebravam e reconstruíam, brindavam e arrastavam. E misturavam sonhos e ciclos as ondas inquietas do mar.
A moça não sabia mas o vento anunciava que uma nova fase acabara de chegar. A moça em breve descobriria que seus passos e seu coração (re)começavam a mudar.
Ela não sabia mas correu dali pra se entender com o tempo.

Yohana Sanfer



A menina que mora em mim por vezes me visita para dar uma olhada na minha realidade. Em algumas dessas vezes sorri de boca inteira como se se olhasse em um espelho. Outras, me encara com estranheza e arrepio. É quando estou longe do caminho das flores.
A menina que mora em mim me acorda a noite. E de manhã continua no berço como se nada tivesse acontecido. É ela que guarda o meu tesouro no seu colo de criança: esperança e fé. E é por isso que quando me perco dela, ela corre de novo pelo caminho, catando as flores dos quintais e as derrama todas em cima de mim. Esse é o seu jeito de dizer: Acorda, mulher! Volta pro seu jardim!
Miryan Lucy


domingo, 9 de março de 2014








Certas tristezas doem mais porque vêm com uma delicadeza infinita. É como se, no lugar do grito, apenas o seu peito espremido, mas mudo. O choro não é contido, mas a voz embargada. A lágrima fica presa na sua expressão e os olhos lânguidos,meio adoecidos, uma beleza de fragilidade na feição. 

Certas tristezas são muito discretas. Seus hematomas são familiares, suas fraturas não são expostas. E, de tão explícitas, pouco se mostram. Você fica melancólica, distante, quase indiferente ao resto de tudo. Você sabe que vai passar, mas naquele momento não acredita: de tão inapetente, apenas contempla sem saborear a escuridão cobrindo o mundo. É dor que dói em silêncio sem o alvoroço da aflição: espécie de tristeza concisa.

É tristeza que dá sono, o cansaço prematuramente perdoado. A vontade de se recolher e se acolher por ter algo que nem ao menos possa ser compartilhado.

Certas tristezas vêm como a fotografia de uma árvore frondosa e solitária... 
Numa paisagem bonita.

Certas tristezas grudam em nós à espera de uma boa notícia.

Marla de Queiroz